No meio de uma aula

Ele a vê. Não era exatamente a garota perfeita, mas os padrões dele são ligeiramente diferentes do comum. Instintivamente, ele olha alguns detalhes dela.
"Ah, que cabelo lindo... É interessante a forma como ela o prende deixando a nuca à mostra..." ele pensa, e prossegue: "Será que ela tem namorado? Ou será que ela está procurando um? ih, acho que ela notou que eu a estou olhando, acho melhor disfarçar..."
Nesse momento, ela pensa: "Quem é esse garoto? Ele tava me olhando, será que ele tá afim de mim? Até que ele é bonito, será que tem namorada? acho que não..."
Então ele pensa: "mas, como eu chegaria nela? bem, a gente está assistindo a mesma aula, temos alguma coisa em comum. será que o clássico 'oi' funcionaria?"
"Por que será que ele ainda não veio conversar comigo? Será que ele é do tipo tímido? Caras tímidos são fofos... e costumam gostar muito de conversar, depois de conhecer bem a pessoa. E se eu fosse até ele? acho que ele não ia gostar, ia me achar muito oferecida..." Ela pensa.
Ele segue com suas reflexões: "Se ela viesse até aqui falar comigo, seria um sonho. Adoro garotas com atitude, principalmente quando elas são assim tão bonitas. Mas e se ela chegasse e perguntasse o que é que eu tanto escrevo? é melhor eu fingir melhor e escrever algo de verdade..."
Ela: "O que será que ele tanto escreve? Será que ele está assim tão concentrado na aula? Não acredito que estou a fim desse cara, eu nem o conheço! Mas eu realmente o achei bonito..."
Ele: "Eu devia falar com ela, logo. Uma bela garota aparece aqui, na minha vida, e eu fico aqui sem ao menos esboçar alguma iniciativa. É simples assim, eu me aproximo um pouco dela e pergunto para quê ela vai fazer vestibular, e pronto, começa tudo."
Ela: "Bastava ele chegar, com uma frase qualquer, até mesmo a sobre o vestibular, e a gente começava a conversar. Acho que ele tem namorada."
Ele: "Acho que ela tem namorado." e ambos concluem "seria bom se não tivesse" pouco antes de soar o sinal avisando que a aula havia terminado. Ela estudava naquele curso mas em um horário diferente, Ele estudava em uma outra unidade do mesmo curso naquele mesmo horário. Nunca mais se viram, e o único fruto daquele momento ficou anotado no caderno dele: um conto com personagens sem nome, e sem diálogo algum.